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Antonio Lopes - Ensaio Psicanalítico 419 - “Vamos dar um tempo”

Será que “dar um tempo” é o melhor caminho para se pensar no relacionamento? Às vezes precisamos ficar sozinhos para meditar, em busca de entendimento da razão da vida a dois. Porém, quando surge o questionamento, pode ser porque a vontade de se separar – ou de explorar novas oportunidades e pessoas – é mais forte. Quando uma pessoa pede “um tempo” é provável que tenha muitas dúvidas sobre a continuidade do relacionamento, em alguns pontos específicos. Quem pede “um tempo” sofre na indecisão, se deve continuar, com medo, sem uma visão de como será o futuro, principalmente em estabelecer uma família. Ambos agonizam com a possível dor da separação e destruição de um sonho que os uniu.

De repente, como passam a agir sem pensar, não encontrando uma solução imediata, vem o pensamento semelhante ao trecho da música Um Tempo pra Nós Dois *: “Tudo o que eu sou para você, você é para mim, É tão bom, não pode acabar assim, Vamos dar um tempo e você vai ver, Que eu sou louca por você e você por mim”. Desentendimentos contínuos podem ter origem na mais tenra infância e no desenvolvimento do ser humano, que passa por traumas que ficam recalcados no inconsciente e, num determinado momento da vida, agem agressivamente, sem entender a razão das discórdias, que são acumuladas pela falta de atenção aos detalhes da vida, no compartilhamento necessário numa estrutura a dois, dividindo responsabilidades e cumprindo compromissos.

Um casal maduro, e emocionalmente estável, tem mais chance de conversar sem discutir, buscando identificar as causas dos conflitos provocados por cada um. Entender que é necessário um esforço muito grande para fazer mudanças em si, sem ficar na expectativa de que o outro irá mudar seu modo de ser. Para mudar o modo de ser é preciso um sério comprometimento mental e treinamento diário, para reduzir as falhas individuais que tanto desagradam e ofendem o outro. A situação se agrava à medida que promessas de mudanças são feitas e esquecidas, negligenciadas, não cumpridas. Aí vem o descrédito e a dúvida de que será essa a pessoa com quero continuar e construir um futuro?

Um esforço para melhorar individualmente, buscando aprender mais como lidar com as exigências de uma união, onde é necessário haver compartilhamento, é indispensável para ambas as partes. Lembrar dos pontos positivos, que talvez sejam em maior quantidade do que algumas falhas, ajudam a reduzir as tensões internas que produzem reações inconsequentes tão prejudiciais. A transparência é a base de um bom relacionamento, para que possa perdurar a confiança, conversando abertamente, sem críticas e sem culpar um ao outro. É aprender a não focar no problema, mas sim na solução.

O acúmulo de atividades profissionais, o perfeccionismo, o rigor no cumprimento de horários, não admitir falhas e não perceber que a carga de compromissos é muito grande, levará ao desentendimento e liberação de raivas e negatividades reprimidas, com uma potência incontrolável. A explosão é como um tornado devastador: destrói, fere e mata. Depois que a energia se esvai vem o arrependimento, uma possível depressão, tristeza, sentimento de culpa, vergonha das atitudes tomadas e dificuldade em consertar o estrago ocorrido.

Ao pensar em “dar um tempo”, talvez esteja pedindo um tempo para você, é necessário um tempo para viver, amar, descansar e trocar carinhos com a pessoa amada. Rever como andam seus compromissos, os cuidados indispensáveis para manter a relação interessante, incrementar o companheirismo, cuidar para o bem-estar no lar, fazer as tarefas domésticas sem reclamar, sentir-se feliz em poder colaborar para manter o ambiente agradável e encontrar um tempo para o amor, contribui para a harmonia tão importante na vida a dois. “Dar um tempo” para ambos e deixar algumas coisas de lado pode trazer felicidade, curtindo as coisas mais simples de um encantador namoro.



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