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Mateus Macedo - Poesia: Sand

SAND

é difícil ser
     [diferente.
mas como, ausente
de sentimentos alheios,
ausente de anseios
como os dos outros,
[como,
aos poucos
posso ir me tornando
[um deles?

impossível!
eles
tentam fazer,
tentam dizer
com que eu seja igual,
mas impossível!
não é normal -
pelo menos para mim -
ser assim.

mamãe dizia
que estou destinado
     [à coisas maiores, mas tanto faz:
maiores, menores; à esta altura
eu só quero é ser feliz.
mas como serei, como serei
contente
com tanta gente
[querendo
me normatizar

para começar:
há os meus amigos.
criticando cada coisa que eu faço
de "anormal", incitando cada passo
que eu dou, que é igual
ao deles.
como? eles
não tem noção
de que eu não
quero ser
assim;
se tivessem,
capaz de não quererem
       [ser
mais meus "amigos".

enfim, há os que digam
ser
pais, ou responsáveis, ou
cuidadores de dores
que eu sinto;
e vou dizer, eu não minto:
falar com eles é um pouco
mais simples.
eles me respeitam e dizem
que eu deveria ser o que eu
  [deveria ser;
mas no fundo, lá
no fundo
eles são todos iguais:

me mostram o jeito certo,
me usam, me tiram do teto
te possibilidades que é minha vida.
mas fazem isso escondidos,
na surdina,
manipulando, aos poucos,os dados
dentro de mim, e,
enfim,
me transformando.

o que fazer com um mundo onde tanto
tempo se gasta
tentando transformar o outro em algo que você
queira?
talvez as pessoas estejam
simplesmente seguindo as regras que lhes falaram
e achando que elas
é que ditam as regras;
talvez elas sejam
más, simplesmente, por natureza
(mas aí eu teria que ser também);
talvez elas só precisam de alguém
que as faça assim,
sorrir,
e sair
desse mar de areia
que elas passaram a vida inteira

desse mar de areia
que se diz
realidade.



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Diversos 06/04