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Antonio Lopes - Ensaio Psicanalítico 424 - A tentação da Pedofiia

Este é um assunto polêmico, complicado de lidar e entender, mas é uma realidade que não se pode negar e que, num grande número de vezes, fica escondido, pois gera reações como raiva e indignação. A manifestação de desejo por crianças pode surgir durante a adolescência e, muitas vezes, é reprimida pela vergonha de tal sensação, tentando ignorar, pois nessa fase da vida a sexualidade é ainda um mistério e quase nada de informação está disponível. O desejo reprimido mantém sua energia libidinal e pode vir a se manifestar na fase adulta, após os 40, 50, 60 anos ou mais, atormentando a pessoa com essas pulsões, difíceis de serem controladas.

Pessoas com mais idade, casadas, com filhos, são vítimas da força dos desejos nefastos e precisam ter um controle racional bem desenvolvido, para evitar e dominar ações tão prejudiciais ao ser humano. Essa loucura age como um universo de fantasmas, que agitam os pensamentos e requer uma compreensão de que se trata de uma possível doença desencadeada na juventude.

Segundo estudos, todos os dias, no mundo, milhares de pessoas de ambos os sexos sentem desejo por crianças, as quais estão totalmente despreparadas para se proteger de abusos. A criança sente prazer no toque libidinoso e a inocência não percebe quando está sendo agredida, pois num grande número de casos acontece no seio familiar, onde está instalado um ambiente afetivo de carinho como sentar no colo, abraçar, dar um beijinho e, muito pior, quando há o ‘selinho’.

Essa tentação pedófila não tem barreiras nem de parentesco bem próximo, ocorrendo em genitores e filhos, amiguinhas e amiguinhos que brincam na presença de adultos e com adultos. Pode ser considerada uma doença incurável, que precisa de muita atenção da pessoa que a manifesta e sabedoria para ter a humildade de procurar tratamento com profissional da área da Medicina e da psique humana.

Nos estudos da Psicanálise, o transtorno pedófilo está classificado no grupo das parafilias – comportamentos sexuais cujo desvio é semelhante à zoofilia ou necrofilia. Essa classificação se encontra no DSM 5 e no CID 10 – Classificação Internacional das Doenças Mentais. Pesquisas no Brasil, Canadá e Estados Unidos estimam que 20 a 30% dos abusadores são diagnosticados com esse terrível transtorno - (http://www.tjrr.jus.br/cij/index.php/noticias/726-pedofilo-procura-ajuda). Não se pode afirmar a exatidão dos percentuais citados, pois grande número de situações não são registradas, ficam camufladas pela vergonha e insegurança de se fazer uma ocorrência ou denúncia, ou não é percebido no ambiente familiar.

Segundo a Organização Mundial da Saúde - OMS, pedofilia é uma doença em que o indivíduo é portador de um transtorno psicológico que apresenta um desejo, uma fantasia e/ou estímulo sexual por crianças pré-púberes.

Conforme estabelece a nossa Constituição Federal, em seu art. 5º, XXXIX, todo crime deve ter expressa previsão em lei. Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. E, assim sendo, não existem em nosso ordenamento jurídico atual os crimes de pedofilia e abuso sexual por total ausência de previsão normativa. Há crime quando há estupro ou lesões corporais e morais, que resultam de uma ação pedófila.

Nas vivências em consultório, verifico que há uma população heterogênea com revelação inconsciente nos discursos verbalizados, cuja percepção se torna complicada para o psicanalista, que precisa estar totalmente neutro para ouvir e identificar, na fala, as possíveis tendências pedófilas. A terapia de Psicanálise é realizada pela associação livre, para que o cliente possa falar sem constrangimentos e sem medo de censura, rejeição ou preconceito. Tudo o que é dito no consultório fica restrito ao tratamento e não pode ser registrado ou comentado em nenhum local que possa identificar a pessoa doente.

Diferentes classes sociais desenvolvem fantasias sádicas, criando situações mentais que excitam para um prazer exacerbado, fazendo com que essas pessoas se masturbem focadas num desejo proibido e, após o gozo, manifestam o triste sentimento de culpa, ou passem a alimentar a loucura de pensamentos alucinantes, aumentando a tentação de alcançar o êxtase sexual fixados num objeto infantil.

Essa tentação pedófila tende a permanecer por toda a existência e muitos anos de terapia são necessários para aliviar a energia libidinal, tão perigosa no meio em que está inserida. Alguns pedófilos são sufocados por valores religiosos, carregando um enorme sentimento de culpa e necessidade de penitência, mas não resolvem em seu interior a causa desse rejeitado e incompreendido transtorno. O Ego se intimida em buscar tratamento multidisciplinar, pois evita revelar a miséria em que vive.

As terapias são semelhantes às dos dependentes químicos, como o álcool e outras drogas, sendo preciso se manter bem distante do que possa despertar o desejo, e não se permitir – sob hipótese alguma – permanecer sozinho em ambiente com crianças. É fundamental a família ficar atenta nesse controle.

Importante salientar que as vítimas de abuso terão neuroses quando adultas e também precisam de terapia intensiva de Psicanálise infantil, para minimizar os efeitos da agressão e das sensações que poderão comprometer um desenvolvimento sexual saudável.

Embora este assunto seja muito delicado e gerador de reações as mais diversas, também é 100% humano, visto que muitas pessoas o carregam dentro de si, em segredo trancado a sete chaves, e sofrem por não conseguir eliminar os pensamentos involuntários dos desejos reprimidos.



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Diversos 09/11