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Antonio Lopes - Crônica 349 - Mãe e a criança

Quando nasce uma criança, nasce também a mãe, pois a mulher existia, mas não era mãe. É algo absolutamente novo para a mulher, que se encontra em dúvida sobre a melhor maneira de criar seu filho e aposta no seu sexto sentido, lembrando dos acontecimentos que a feriram e também dos e aprendizados durante sua existência, talvez pensando em como evitar que seu filho tenha que passar pelas situações iguais.

Não são todas as mães que assim pensam visto que, para algumas, a criança só atrapalha e deteriora seu corpo, envolve um monte de responsabilidades que faz com que ela chegue até a rejeitar seu filho. De uma forma geral, ser mãe é uma missão de amor e dedicação com o compromisso de criar seu rebento dentro de uma educação adequada, para que se transforme num ser útil e bem-sucedido no meio social em que vive. Mesmo lutando contra a natureza humana que traz dentro de si, o inconsciente que produz sensações com pulsões terrivelmente fortes em busca do prazer a qualquer custo, a mãe paga um preço elevado em favor da sua criação.

A mãe contemporânea se encontra num universo onde a mulher está conquistando sua liberdade, numa parceria com o homem na busca do sucesso pessoal e profissional e com isso luta para organizar uma agenda em que possa estudar, trabalhar, cuidar da casa, cuidar do filho e lógico de si mesma que também está cheia de desejos e fantasias para realizar, o que é 100% humano.

Em algum momento, a criança percebe que existe uma diferença entre sua mãe e seu pai. Ao mesmo tempo ela percebe que é mais parecida com um que o outro. Assim, a criança adquire gênero. A criança também pode formar uma espécie de acessório erótico ao progenitor do sexo oposto. Embora a sua compreensão do ato sexual completo pode ser questionada, uma espécie primitiva de sensações físicas são sentidas e não compreendidas.

O desejo primitivo de uma mãe pode também despertar na criança uma motivação de ciúmes e desejo de excluir o outro genitor. Transferência de afetos podem ocorrer quando a criança pede para se tornar independente e escapar de uma mãe que determina o que fazer e não consegue explicar como fazer. Um ponto crítico do despertar infantil é quando a criança percebe que a mãe tem outros afetos para além de si mesmo.

Ciúmes primitivos não são necessariamente limitados para a criança e os pais. Assim o casal pode entrar no jogo, tanto em termos de competir uns com os outros sobre quem mais realiza na família. A criança se afeta e passa também a disputar com os pais, buscando formas de conseguir para si a atenção e carinho que ela tanto precisa.

A oposição aos pais pode não ser necessariamente de caráter sexual e afetivo, se manifesta também como uma parte do afã para afirmar a própria identidade e a rebelião contra o controle parental. As mães da atualidade precisam saber cada vez mais sobre o desenvolvimento psicossexual do ser humano e perceber de forma clara e rápida o que está acontecendo na sua família e com seus próprios instintos.

Criar filhos requer abnegação, muita resiliência e compreender a vida bem a nossa frente, com clareza e sabedoria para se fazer as escolhas adequadas para a formação de um ser que vai continuar a se desenvolver, será adolescente, jovem e adulto, seguindo o ciclo natural de nascer e fenecer. É preciso perceber a hora de soltar do ninho e ensinar a voar.



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