Ao ouvirmos um comentário que nos parece engraçado somos atingidos por uma onda cômica, que nos faz rir inconscientemente. Dependendo do estado emocional, ao ver uma cena de alguém escorregando e caindo desajeitadamente, o riso se manifesta de forma involuntária - bem usado num programa de televisão, porém pode provocar pena e vontade de socorrer. Se estamos conversando com alguém ou um grupo de amigos e em um dado momento ouvimos uma frase mal colocada, mesmo que estejamos conscientes que não era o que a pessoa queria dizer, o riso se manifesta e o quadro se torna divertido, dando um sentido pitoresco hilariante.
Da mesma forma, quando queremos dizer alguma coisa e sem querer falamos outra, pode ser uma manifestação inconsciente de algum conteúdo interno que transforma a situação de forma espirituosa, que poderá ser motivo de risadas. Estamos falando de formas linguísticas que dão sentido diferente ao pretendido, que são chamadas de ‘atos falhos’ e ‘chistes’.
É comum, num grupo de pessoas, as piadas que para alguns são hilariantes e para outros são inconvenientes. Quando num grupo se desenrolam piadas com conotação sexual, provocando gargalhadas generalizadas, talvez quem as esteja contando esteja rindo do seu lado bissexual, sem saber que o tem. Piadas de mau gosto, sobre a inteligência das mulheres, fazem os machistas rirem e enfurece as mulheres. A história da piada, no entanto, pode ter significado não entendido por quem conta, podendo contribuir para superar algo que lhe falta ou que é da sua própria natureza.
Um comentário que dá sentido diferente daquele que realmente tem, dando um toque de humor, tornando-o prazeroso e divertido por um momento, pode ser denominado de chiste. É como uma válvula de escape do nosso inconsciente, que utilizamos para dizer em tom jocoso aquilo que realmente se pensa.
Os chistes, que são ironias do dia-a-dia, contribuem para um cotidiano mais leve e tolerável da realidade que vivemos, possibilitando uma conexão arbitrária através de uma associação verbal de ideias contrárias. Observamos que, com a onda de revelações assustadoras da corrupção, a criatividade em contos engraçados é estimulada e surgem piadas e mais piadas, que podem ter como significante uma repulsa da agressão moral e ética vivenciadas.
Os cômicos têm, em sua natureza, a aptidão de transformar o cotidiano em um verdadeiro palco de pilhérias, onde encontramos conteúdos de valores que fazem parte do ser humano, representando a nossa própria situação, que nos incomoda e rimos dela.
Desenvolver a habilidade de transformar situações em chistes é uma arte para amenizar as dificuldades de entender a realidade externa, modificando-a para um panorama que seja agradável, fazendo com que o significado de uma palavra possa se transformar para um significante que reduza a crítica interna e, assim, torne a vida mais suave e alegre.
Através do humor se pode reduzir as dores de golpes que a vida impõe e, quando se encontra o riso, é como um cobertor que protege do frio, uma máscara de segurança do próprio ego.
Costuma-se dizer que, quando as piadas surgem em grande quantidade, é porque a situação vai mal e, quando estas são poucas, a situação é boa. Podemos entender, então, que os chistes fazem parte de mecanismos de defesa da mente.
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Diversos 29/03