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Mateus Macedo - Poesia: Por mais um dia

POR MAIS UM DIA



"Um dia, você vai quebrar."
Foi o que um tio me disse,
há muito tempo atrás.
Pois bem, dito e feito,
não tinha jeito...
o efeito
    [daquelas palavras
se tornou real.

E, afinal, quem sou eu pra julgar a lição
              [de moral
que ele me deu?
Deu, foi dado,
ninguém percebeu...
à não ser ele, e eu.
E, apesar do fardo
que carreguei depois,
foi escolha minha, após
horas discutindo,
ficar mais horas
e dias
unindo
forças pra resgatar
o que eu era antes
[de me entregar
ao escuro

Escuro, no duro,
escura escuridão.
Pois, se não
    [fosse aquilo
eu seria maior,
seria melhor.
Mas, pior
que aquilo aconteceu,
e, o que se deu,
cedeu, como se
         [não houvesse
resistência.
E a ausência
de quem falou
que o mundo ia ceder
me fez perceber
que eu não tinha ninguém
à quem
contrariar,
à não ser à mim mesmo.

À esmo,
comecei à chorar,
e à me lembrar
do tempo em que o vento
soprava em minha direção.
Pois, até então
aquilo não
acontecia mais.
E eu pensei:
eu deixei pra tráztudo aquilo
que me fazia
    [feliz,
pois, então,
não mereço mais sê-lo

e, ao tê-lo -
a chance de mudar -
em minhas mãos,
eu disse que não.
Que não
o faria
pois o dia
estaria
[longe demais
para eu alcançá-lo.
Eu gostaria de criá-lo
de novo,
nem que seja em meus novos termos;
eu gostaria de chamá-lo
para perto de mim,
saboreá-lo,
sabores e afins;
gostaria de tê-lo,
novamente,
iluminando
     [meus olhos.

Mas olho
para tanto tempo que se passou,
             [e dou
um passo pra tráz.
Tenaz, nunca fui
mas fui, um dia
um pouco mais forte
        [que isso!
Omisso, digo ao padre
que rezei; quando,
na verdade
nem dei
o primeiro passo!
Compasso, preciso de
compasso; mas como o terei
se não acho
nem meus pés novamente?

Talvez terei que criar,
o dia,
ausente
de sentimentos anteriores.
Talvez as dores (novas)
me ajudarão, talvez não.
Talvez não, nada disso valha à pena -
mas'a'alma não'é pequena,
e a vida não é plena
o suficiente
para termos certeza de algo -
mas eu tenho que tentar!
E no mar
vou me jogar,
nem que custe a minha vida,
[nem que custe o meu amar;
no mar
vou me jogar

porque, se parar
pra pensar
nada disso é tão certo
quanto o objetivo concreto
que tenho em minha mente,
e nada disso é tão ausente
quanto a ferida intermitente
que a gente sente ao não
        [conseguir
o que, realmente
    quer.

Seja homem, ou mulher;
doa o que vier,
venha o que puder,
vou sonhar,
e me matar
(no mar, no
precipício)
por mais um dia - por mais
             [difícil
que seja -
guiado pelo sol.



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Diversos 09/04