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Antonio Lopes - Crônica 410 - Síndrome de Peter Pan

A dificuldade na vida adulta, em encontrar o caminho para se libertar da infância, é uma característica que acompanha algumas pessoas que vivem num mundo de fantasias, o que as impede de sair de casa e buscar sua identidade pessoal. Mesmo praticando, com inteligência, atividades profissionais interessantes, os pensamentos dominantes se fixam na criança que não quer perder o seu lugar no lar onde habita. Continua morando com os pais, ainda que já tenha sido casado e gerado filho. Não consegue elaborar um projeto de vida que lhe permita independência e, ancorado na zona de conforto, seus sonhos de vida são fantasiosos e infantis.

Agem como crianças na esperança de serem compreendidos pelos demais, fazem-se de vítimas sofredoras e desenvolvem elevada insegurança para estabelecer um relacionamento amoroso, sublimando a sexualidade em atividades no computador, jogos diversos e podem até ser bons para escrever, criando imagens e histórias, onde passam a fazer parte de um ou mais personagem, como nos contos de Peter Pan.

Eternos meninos, não conseguem renunciar a ser filho por mais idade que já tenham alcançado. Continuam agindo como garotos, tanto na vida profissional quanto pessoal, vivendo a Terra do Nunca, num eterno parque de diversões. São pessoas que foram superprotegidas pela família que, com boas intenções em não deixar passar por dificuldades e frustrações, sem querer impediram um desenvolvimento da personalidade adulta, criando uma criança que não ficou madura e não consegue se libertar do aconchego do ninho familiar.

Chegam a concluir um curso superior e exercer uma profissão, mas continuam imaturos. Não buscam o mercado de trabalho fora do seio familiar, mesmo que tenham feito outros cursos de desenvolvimento pessoal e profissional. Sua vida é um eterno faz de conta. Ficam incapazes de levar um relacionamento amoroso, pois idealiza a mãe. Geralmente, quando já adultos, ainda são dirigidos pelos pais que não os deixam ter iniciativa própria, não dão a oportunidade de errar, de se frustrar e de viver suas próprias experiências. Assim, fogem do compromisso de ser adulto e levam uma vida insatisfeita, pois não conseguem agradar seus progenitores, que querem que ele seja o que ele não é.

O resultado é uma pessoa insegura, que não tem iniciativa e continua necessitando de uma grande dose de afeto maternal. Embora tenham uma aparente segurança, não conseguem encontrar uma companheira que compartilhe sua maneira de viver, pois essa teria que se adaptar ao ambiente castrador. Quando um relacionamento começa a ter aspecto de compromisso em sair do seu habitat, retraem-se e fogem da responsabilidade de assumir o controle para seguir em frente, e o rompimento fatalmente surgirá. Procuram colocar nos outros a culpa do que lhes acontece, enganando a si mesmos com a falsa boa imagem que querem mostrar aos seus familiares. Personalidades Peter Pan podem acontecer também com pessoas do sexo feminino (Sindrome de Cinderela), mas geralmente ocorrem com o sexo masculino.

Na história de Peter Pan podemos visualizar a imaturidade em certos aspectos psicológicos e sociais, com problemas sexuais e comportamentos narcisistas, com dependência e rebeldia. Temem o abandono e o fracasso.

O tratamento mais recomendado é a psicoterapia, quando se poderá trabalhar o autoconhecimento, para que aos poucos adquira consciência de que é um adulto que pode cuidar de si mesmo, sem depender ou sofrer influência de ninguém. Não há um prazo para superação dessa síndrome, como também não pode haver pressa numa solução. Requer muito tempo de terapias com um profissional habilidoso, que aos poucos vai pontuando para a liberação dos recalques contidos no inconsciente.



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Diversos 30/07