“Acautelai-vos senhor, do ciúme; é um
monstro de olhos verdes, que zomba do
alimento de que vive.”
William Shakespeare.
O ciúme arrebata a mente humana com sentimentos infernais, descontrolando a razão e levando a um sofrimento mental destruidor. É o “Monstro de Olhos Verdes” da obra “Otelo”, de William Shakespeare, que se manifesta com contradição à lógica de uma pessoa. Influenciado por valores culturais e heranças da infância, pelo pavor do abandono do pai e por sofrer com seus próprios desejos sexuais reprimidos, a pessoa ciumenta se censura amargamente por ser assim e teme que possa perder o controle dos seus pensamentos e, por impulso, passa a ser um forte agressor da pessoa amada.
O ciúme é uma manifestação que surge involuntariamente e conflita simultaneamente com amor e ódio. A intensidade se potencializa quando a pessoa se encontra numa fase de transição da vida, com situações que afetam a sua autoestima e se sente insegura, com medo das situações adversas que poderão surgir. Medo é pouco, é apavorante e desesperador, e os fantasmas abissais do inconsciente criam fantasias desastrosas e liberam agressividade e desespero com a falsa expectativa de que será traída.
Em alguns se configura como sintoma e, na continuidade, passa a ser uma patologia que afeta o cotidiano e provoca rejeição da pessoa que ama. Situações de crise se tornam rotineiras e o descontrole emocional domina com uma força avassaladora, levando-a a vivenciar situações produzidas pelos próprios desejos reprimidos, que explode como uma bomba atômica destruindo o equilíbrio mental. Pulsões de agressões, para se livrar dessa tortura, fazem com que a presença da pessoa amada seja rejeitada e insuportável.
Passa a ser uma confusão mental que afasta a possibilidade do real e domina o imaginário. Isso é derivado das relações afetivas ocorridas na infância de cada um e pode estar profundamente enraizado no inconsciente, sendo uma continuação de manifestações da vida emocional da criança que sofre conflitos com o amor do pai e na relação entre irmãos, no primeiro período da sexualidade.
A desconfiança toma conta, levando a uma insegurança e a baixa da autoestima, destruindo o ego que se sente ferido, agredido e se rebela compulsivamente, buscando provas que não existem. Em seguida surge a necessidade de ser reconhecido e receber atenção. O ciúme expressa o desejo de controlar e possuir unicamente para si a pessoa amada. Vem de uma demanda de exclusividade, do desejo de ser tudo para alguém e não suportar dividir a atenção com mais ninguém. Traz consigo a angústia de ser excluído, sentirse fora dos jogos amorosos e correr o risco de perder sua atenção e seu amor.
O ciúme nasce de um estado ideal que não foi alcançado e produz um ódio que parece justificado, alimentando a condição de vítima, que lhe dá o direito de vingança. Assim a pessoa constrói fantasias paranoides, sentindo-se ameaçada pela possível perda e humilhação. Aprender a ter liberdade e dar liberdade aumenta a segurança pessoal, melhora a autoestima e elimina o medo de viver. É preciso eliminar o monstro de olhos verdes que habita dentro de nós. É preciso ajuda profissional, e é 100% humano.
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Diversos 13/01