“De tanto levar ‘frechada’ do teu olhar / Meu peito até parece, sabe
o quê? / ‘Táuba’ de tiro ao Álvaro/ Não tem mais onde furar // Teu
olhar mata mais do que bala de carabina / Que veneno e
estriquinina / Que peixeira de baiano / Teu olhar mata mais que
atropelamento de ‘automóver’ / Mata mais que bala de ‘revórver’.”
Adoniran Barbosa (1910-1982)
Assim, basta um olhar para agir como fagulha que incendeia o desejo por uma pessoa. A atração se manifesta de repente ou de mansinho. Um turbilhão de sensações giram pela mente, tirando o sono e provocando excitação sexual.
A atividade sensorial se torna intensa com estímulos visuais, auditivos e cenestésicos. Inconscientemente se desenvolve uma energia sexual, com um jogo de sedução, cheio de fantasias, em busca do prazer. O instinto Eros age criando pensamentos com imagens mentais sensuais, repletas de fantasias, liberando os desejos reprimidos, e a pessoa entra num estado de alucinação erótica. Enquanto não satisfaz os desejos permanece agitada, alterando seu comportamento mental e orgânico.
O coração dispara, a respiração acelera e fica ofegante, o raciocínio se complica em ordenar os pensamentos, o corpo se agita com a excitação que provoca a ereção e a lubrificação dos genitais. As pessoas se atraem com uma força irresistível e precisam se unir para a obtenção do mútuo prazer, que poderá surgir numa explosão de luxúria e gozo. O âmbito do erotismo e o da transgressão das proibições universais da sexualidade humana tomam formas para eliminar, por um momento, os tabus que os colocam sempre em infrações das normas sociais e dos valores internos individuais. A atividade sexual abre espaço para a troca na aventura amorosa e enfraquece o sentimento de si. É um momento de crise e a pessoa se perde objetivamente, só se identificando com a possibilidade de alcançar a sensação de conquista, eliminando a censura interna e fragilizando o consciente.
Na história da humanidade, a atração sexual sempre foi tratada como parte comportamental sujeita a codificações morais, reprimida por falsos valores éticos que criaram mitos e tabus para dominar as pulsões, manifestadas em todas as pessoas. Algumas religiões e sociedades pregam que sexo é somente para procriar, que as mulheres não podem ter prazer na relação, criando pecados que levam a penitências brutais.
De acordo com Sigmund Freud (1856-1939), Eros nunca repousa e sentimos a falta do objeto amado e, por isso, nos esforçamos para prendê-lo, querendo viver aquele amor intensamente, em todos os momentos. Amor é desejo, que é da própria essência do ser humano. Fazer amor é necessidade, é potência que se traduz em alegria e satisfação do ser, levando-o à plenitude de viver. Nada melhor na vida do que estar com alguém que se quer na relação amorosa e usufruir desse regozijo, de amar e fazer amor. Ainda ouvindo Freud: “Amamos para não adoecer e adoecemos se não formos capazes de amar”.
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