arraste para o lado para ver mais fotos
Antonio Lopes - Crônica 362 - Medos inconscientes

Contavam-nos histórias infantis com monstros imaginários, que poderiam devorar nossa alma, provocando um medo irracional... Aquele “bicho-papão”, cantado quando queriam que a criança fosse dormir, dizendo “se você não dormir o bicho vem te pegar”. Como pegar no sono com essa ameaça assustadora? Isso causava tanto medo que produziam pesadelos infantis torturantes. Também foram criados outros seres apavorantes, como o “homem do saco” e outros seres: “almas penadas”, “mula sem cabeça”, verdadeiros fantasmas que assustavam as crianças. Na região sul do Brasil, na cidade de Guabiruba, SC, existe a cultura do medo no folclore de tradição austríaca, com os ajudantes de São Nicolau, os pelznickel. “Se você não for bonzinho eu vou te pegar!”, dizem. Assim, distribuem terror entre as crianças, que carregarão essas ameaças por toda sua vida.

Esses medos ficam registrados e, na vida adulta, podem se manifestar de forma inconsciente como várias síndromes, como o pânico, resultando em uma pessoa insegura, com medo de críticas e de punição, medo de escuro, medo de porta aberta, medo de falar em público, medo de lugares fechados, medo de viajar de avião, medo de elevador, medo de dirigir e alguns transtornos obsessivos (TOC).

A “bruxa malvada” era o monstro da inveja, que não podia ver uma pessoa bela, pois teria que destruí-la para ser a mais bela do mundo, colocando a Cinderela como vítima inocente à espera do seu Príncipe Encantado, que a salvaria da maldade.

Os medos que se acumulam no inconsciente podem ser liberados de formas as mais variadas, causando transtornos de desenvolvimento, de submissão e repressão, e não sabemos e não entendemos porque muitas vezes deixamos de fazer alguma coisa e ficamos com enorme e pesaroso sentimento de culpa, que resulta numa angústia incontrolável.

Ainda hoje é usado, nas famílias, a força dos medos para se obter um comportamento temporário numa criança, o que causa um mal que fica enraizado para toda a vida. Na educação dos filhos é necessário muito amor, paciência e lembrar que você também foi criança, que sofreu com essas artimanhas maldosas.

É necessário substituir o medo por alegria, buscando contos alegres e atividades lúdicas que possam levar a criança a se sentir segura para dormir como se estivesse nas nuvens, assim contribuindo para a formação de uma mente tranquila, harmonizada com as coisas da vida. Um bom caminho é procurar a Escola de Pais e dedicar um pouco do tempo do casal para brincar e contar histórias para seus filhos.

Os adultos, angustiados por seus temores inconscientes, não conseguem identificar a causa dos seus sentimentos e apresentam grande dificuldade em assumir atitudes para a solução de problemas. Surge o desejo de abandonar tudo e fugir das responsabilidades. Sensação de fracasso e de incompetência passam a dominar sua mente, culminando com a procrastinação e medo de enfrentamento de novas situações. As psicoterapias psicanalíticas muito contribuem para a resolução dos temores e fortalecimento do ego.



Crônica anterior        /         Página inicial         /        Crônica seguinte




Diversos 09/08