Falar que está consciente do que se faz não quer dizer que se tenha consciência do que está fazendo. Vamos refletir um pouco sobre o que é o estado de consciência para se alcançar uma compreensão da complicada estrutura da mente humana.
Quando dizemos “estou ciente”, simplesmente informamos que temos conhecimento de alguma coisa, mas isso não quer dizer que temos plena consciência de uma determinada situação. Consciência é uma qualidade psíquica que pode ser desenvolvida buscando novos conhecimentos, pois o conhecimento altera o estado de consciência. É um atributo do pensamento humano que pode evoluir para buscar a melhor compreensão do meio em que está inserido. “Ser consciente” não é a mesma coisa que “perceber-se na sociedade”, mas ser no meio social participante e integrado.
Ninguém pode ter consciência de alguma coisa se dela não participar. É necessário experiência. Não é possível entender de algo, um processo, uma situação, sem participar do seu conteúdo. Como é possível alguém falar de sexo sem nunca ter praticado, sem sentir as emoções e prazeres da relação? Diante de situações novas a que assistimos ou vivenciamos um contato com algo que não praticamos, o máximo que se pode fazer é estabelecer referencial de um registro próximo de algum acontecimento ou objeto já conhecidos ou que se domina.
Essa complexa estrutura da mente humana busca satisfazer o ego com justificativas que são criadas, surgindo pensamentos os mais variados de como se safar de uma situação ou como transferir as responsabilidades para outros, do tipo: eu já fiz a minha parte, tenho a consciência do dever cumprido. Essa sensação de que já fez o que tinha que fazer é uma forma de enganar a si mesmo para não dispender mais nenhum esforço para buscar melhor consciência da importância de viver em coletividade.
O que se vê é cada um puxando para o seu lado, confusos como se estivessem perdidos no espaço sem nenhum horizonte, sem identidade, sem saber o que são, como são e porque são. Desenvolver a consciência é buscar dar sentido à vida. Em busca de sentido se pode alcançar a plenitude de “ser” e não se prender tão somente ao “ter”. A vida sem sentido, vagando ao sabor dos ventos, balançando sobre as ondas, resulta em enjoo, vida enfadonha, baixa da autoestima, depressão e angústia.
Dizer que está com o dever cumprido pode ser uma forma de mergulhar no vazio existencial e deixar de contribuir para o seu próprio aprimoramento humano. Não há limite do dever cumprido, pois sempre há muito mais a se fazer e aprender.
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