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Antonio Lopes - Ensaio Psicanalítico 427 - Interpretação dos sonhos

Interpretar os sonhos é mergulhar num universo fantástico e desconhecido, místico, religioso e repleto de crendices que acompanham a humanidade, com sentidos diferentes e inexplicáveis. Os sonhos despertam a curiosidade para entender seus verdadeiros significados. Há uma abundância de livros, livretos, sites e até dicionário dos sonhos, elaborados para, como passes de mágica, decifrar por meio de misteriosos praticantes de atividades que encantam, apontado soluções ou previsão de desgraças. Adivinhos de imaginação fértil afirmam que os sonhos são manifestações divinas sobre a vida do indivíduo. Mas, também, podem ser cabalísticos e diabólicos, como mensagem verdadeira.

Sonhar, esse verbo que todo mundo conjuga durante o sono, está ligado ao bem-estar do corpo e da alma. Uma noite repleta de sonhos é um estabilizador mental. Dormir mal, sem lembrar dos sonhos, deixa o indivíduo mais vulnerável a desenvolver quadros de ansiedade e depressão. Quando os sonhos acontecem numa boa, é mais fácil manter o equilíbrio emocional. Sonhos ruins frequentes, podem vir à tona justamente se não lidamos diretamente com determinadas situações, quando estamos acordados. Eles persistem para que a pessoa possa se dar conta de que precisa enfrentar e resolver seus problemas.

Quem teme entrar em contato com as próprias emoções, pode ter pesadelos recorrentes e até acordar no meio da noite, com a sensação de que tudo aquilo é verdade. Levar para a cama as agruras vivenciadas ao longo do dia, fornece material para sonhos da pesada. Sonhar é uma ação tão profunda, que às vezes pode ser prazerosa e, outras, pode ser assustadora. É uma função da mente sadia, que se manifesta de forma frequentemente grotesca e complicada, com imagens e situações vivenciadas que provocam estímulos emocionais, que independem do consciente. É a manifestação do inconsciente, ligado às nossas mais íntimas experiências, que nos permitem viver num mundo sem limitações de espaço e de tempo: penetramos num universo do mistério, onde possivelmente estarão refletidas nossas emoções, experiências, fantasias e segredos, que até temos medo de desvendar. Em sonhos podemos ser tudo, fazer tudo, criar tudo, viajar sem limites num mundo espetacular.

O sonho provoca em nosso corpo alterações fisiológicas visíveis, afetando a nossa química com a produção de hormônios que estimulam as ações, sempre dirigindo para a busca incessante do prazer ou para alívio de uma situação sofrida, da qual não temos consciência. Segundo Freud, é um produto da atividade do inconsciente e que sempre tem um sentido intencional, que pode ser, a realização ou a tentativa mais ou menos dissimulada de uma tendência reprimida. O sonho é produzido com os pensamentos, onde dados e experiências são recalcados para o inconsciente, o que se faz automaticamente, causando uma agressão ao psiquismo.

Os nossos sonhos são como uma função psíquica encarregada de compensar, de suavizar, de substituir, mesmo, uma realidade que nos é hostil por outra, totalmente diferente, onde um novo mundo se descortina diante da alma e onde todas as nossas ações parecem absurdas, justamente porque as que seriam censuráveis na sociedade em que vivemos gozam de independência enquanto dormimos, é uma espécie de liberdade condicional, que se expande nos sonhos.

Exceto os psicóticos, por não terem uma estrutura mental completa, todas as pessoas sonham.

Para uma interpretação de um sonho ser mais aproximada à realidade interna de uma pessoa, Freud observou uma simbologia cuidadosamente estudada a qual, sendo habilmente analisada por um psicanalista, culminará com a compreensão do indivíduo que vive a sua história nesse mundo de mensagens liberadas do inconsciente. Não se interpreta sonhos com poderes mágicos e misteriosos, mas sim com conhecimento das representações que cada situação e figuras que se manifestam em sono, geralmente na alta madrugada. É através dos sonhos que nós vivemos, na busca de realizarmos os nossos desejos. Assim, podemos definir os sonhos como uma função psíquica encarregada de compensar, de substituir mesmo uma realidade, que nos é hostil por outra totalmente diferente, onde um novo mundo se descortina diante da alma.

Há sonhos lindos, sonhos inesquecíveis, que a gente lamenta quando se desfazem. Outros são tão feios e apavorantes, que quando se dissipam, damos um longo suspiro de desafogo, e ainda com mais profunda alegria dizemos para nós mesmos: “Felizmente tudo não passou de um sonho!”.



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Diversos 07/12